Muitos cristãos reconhecem que devem estar aptos para responder àqueles que os questionam acerca da razão de sua esperança (1Pe 3.15). E devem fazer isso por uma declaração, pela exposição de um fato ou de um argumento. Contudo, a resposta em forma de uma pergunta pode também ser uma ferramenta empregada poderosamente e com sucesso, após um pouco de prática. Tanto Jesus quanto Paulo regularmente se valeram das perguntas na prática do evangelismo, da apologética e do ensino.

O escritor do livro de Provérbios igualmente destacou o valor das questões indagativas: “O primeiro a apresentar a sua causa parece ter razão, até que outro venha à frente e o questione” (Pv 18.17 – NVI). Por que as perguntas são tão poderosas? Porque demandam respostas, estimulam o pensamento, fornecem valiosas informações, provocam as pessoas a se abrirem aos problemas e as ajudam a se convencerem.

O maior valor prático do método de empregar as perguntas reside no fato de o questionador não ter de possuir todas as respostas. Um cristão pode se engajar numa discussão sem necessariamente conhecer tudo sobre o assunto em debate, desde que não esteja discursando, mas questionando. Para aqueles que não se sentem confortáveis diante de sua gama de conhecimento acerca de uma disciplina, ou que não se sentem qualificados para argumentar, o questionamento torna-se uma excelente opção que faz grande diferença no diálogo apologético.

Um exemplo de Jesus

Mateus nos relata um formato de questão indagativa utilizada por Jesus, recorrente nos relatos do evangelho (Mt 6.25-34). Nesse texto, um trecho do sermão da montanha, Jesus está ensinando os discípulos que eles não deveriam se preocupar. Primeiramente, Jesus declara um princípio, depois, faz uma série de perguntas, e, em seguida, finaliza com o resumo do conceito que queria que seus seguidores apreendessem.

As perguntas de Jesus fazem que seus ouvintes pensem e, ao mesmo tempo, consigam convencer a si próprios de alguma coisa. Imaginemos que os discípulos tenham, inicialmente, rejeitado a pregação de Jesus por meio de um diálogo interior (psicológico) sobre seus problemas, suas tensões e pressões, e os obstáculos que enfrentavam diariamente. A pungência das perguntas que Jesus apresentou, contudo, demoliu tais reflexões, levando-os a refletir sobre duas outras questões implícitas:

1) O que a preocupação pode fazer por mim?

2) Deus é fiel?

A resposta à primeira pergunta parece óbvia — a preocupação nada pode fazer por nós. A segunda, porém, requer que o ouvinte empenhe uma auto-avaliação, a fim de ponderar se ele realmente faz descansar sua confiança em Deus. Se a resposta for afirmativa, então a conclusão segue logicamente: a preocupação não faz sentido. Se for negativa, Jesus repete o conceito: “Não vos inquieteis, pois, com o amanhã” (Mt 6.34).

O emprego das perguntas por Jesus foi intenso e persuasivo. Jesus conduziu o raciocínio de seus ouvintes por meio de perguntas certas e eficazes. E suas indagações se tornaram catalizadoras de um caminho lógico quase inexorável à conclusão. Sobre isso, Philip Johnson aponta: “Se eu começar com a pergunta certa e deixar que a resposta desta primeira pergunta sugira a próxima, e assim por diante, então a força irresistível da lógica me levará à conclusão correta, mesmo que a primeira resposta pareça estar distante dela”.

O que é uma boa pergunta?

Uma boa pergunta possui três importantes características.

Primeiro, a pergunta precisa ser simples e restrita a um único tópico. Evite perguntas que evoquem múltiplas respostas ou que sejam verborrágicas.

Segundo, a pergunta precisa ser clara e de fácil entendimento. Use um vocabulário que seja familiar à pessoa de quem você pretende obter a responda. Evite empregar termos vagos ou ambíguos e jargões evangélicos. O apologista cristão deve estar atento aos termos e conceitos cristãos que sejam questionáveis em seu próprio meio, ou seja, entre os próprios cristãos, e também entre os cristãos e os sectários. Muitos termos e conceitos não são bem conhecido fora dos círculos cristãos.

Perguntar para uma pessoa se ela acredita que Jesus foi feito a propiciação pelos seus pecados, por exemplo, poderá, efetivamente, não ser uma boa idéia, uma vez que poucas pessoas ouviram falar de “propiciação” fora dos círculos cristãos. Uma estratégia prática é apresentar tais termos por meio de outras palavras que expressem o mesmo significado.

A escolha da palavra correta dependerá muito do contexto da situação em que nos encontrarmos. E, mais importante ainda, dependerá do nível intelectivo do receptor e de seu estilo de comunicação. Usar um vocabulário especializado pode ser mais apropriado numa aula sobre religiões comparadas direcionada a seminaristas de nível avançado, mas seria inadequado numa conversa com alguém na rua. Como alguém poderá saber tudo isso? Lembre-se, é você quem está fazendo as perguntas! As respostas para estas perguntas nos permitem ajustar melhor a nossa aproximação à situação e à pessoa com quem almejamos dialogar.

Terceiro, a pergunta não pode conter um teor amedrontador ou estar carregada de palavras emocionalmente carregadas. Tais questões evocam uma reação apaixonada e não uma resposta pensada. São perguntas usualmente impróprias para quem intenta travar um diálogo qualitativo. O termo “pecado”, por exemplo, é extremamente carregado no âmbito emocional. Em nossos encontros com os não-cristãos, percebemos algumas reações interessantes quando do uso desta palavra. As reações refletiram o conceito que as pessoas possuíam acerca de “pecado”, mas sem necessariamente declararem qual é este conceito implícito por trás da palavra.

A fim de despir o termo de seu teor emotivo, sugerimos uma progressão das idéias na conversa. O “pecado” pode ser descrito, num primeiro momento, como “ser imperfeito”, depois, como uma “regressão aos mandamentos de Deus” ou algo similar que igualmente comunique a compreensão bíblica que encerra o termo.

Quando sugerimos uma expressão diferenciada para a conceituação de um termo bíblico, não estamos querendo dizer que o apologista deve mudar a essência da definição. Precisamos ser cuidadosos e precisos. Cremos que o emprego de descrições alternativas pode ser mais bem compreendido no diálogo, assim como pode promover respostas sem o caráter resistente que de outra forma poderia se verificar.

Perguntas que devem ser evitadas

Deveríamos evitar alguma espécie de pergunta? A resposta é sim. A pergunta dirigida deve ser, em geral, evitada. Perguntas dirigidas são aquelas que sugerem ou deduzem a resposta correta. O poder da sugestão pode balançar as pessoas facilmente. Com tais perguntas, podemos receber respostas convenientes em vez de informações precisas e detalhes importantes. Essas perguntas, habitualmente, começam com expressões indagativas, tais como: “Você não acha que...?”, “Você não deveria...”, ou “Você não concorda que...?”. Obviamente, tais perguntas estão estimulando uma resposta específica.

Como perguntar?

O processo interrogativo é bastante simples, mas o fracasso na observância de alguns passos pode conduzir-nos a enganos e a uma comunicação ineficaz. Se não atentarmos para este cuidado, o impacto de nossas perguntas será reduzido.

Primeiro: devemos fazer a pergunta. Se a pergunta for desenvolvida com as diretrizes básicas já comentadas até aqui, ela produzirá uma resposta sensata. Se não, a pergunta precisará ser reformulada.

Segundo: devemos receber a resposta. Para recebermos a resposta em sua completeza, precisamos estar predispostos a ouvi-la. Escutar com diligência quer dizer focalizar a atenção naquilo que o respondente está dizendo, evitando interrupções e absorvendo as mensagens visuais e auditivas expressas por ele. A “linguagem corporal” de uma pessoa e o seu tom de voz podem ser tão importantes quanto o que ela está dizendo. O tempo durante o qual estivermos ouvindo a resposta não é apropriado para desenvolver perguntas adicionais ou avaliar a resposta. Comumente, tais perguntas são precipitadas e mancas, pois não consideraram a lógica total da resposta.

Finalmente, depois de recebermos toda a resposta, podemos, então, avaliá-la em sua inteireza lógica e precisão efetiva, em suas suposições e consistência, com informações conhecidas ou respostas prévias.

Se a sucessão de perguntas deverá ser da do geral para o específico ou do específico para o geral, isso depende do tópico em discussão. Seja qual for o caso, o ponto central será usar a informação obtida de uma pergunta como “alimento” para a formulação da próxima pergunta lógica e, nessa cadência, conduzir o diálogo passo a passo ao destino final, seja ele uma compreensão, uma conclusão, ou mesmo uma decisão.

Mas há, ainda, outros tipos de perguntas que gostaríamos de trazer à baila: “as abertas e as fechadas”. Perguntas abertas são aquelas que fazem que os respondentes forneçam respostas desestruturadas ou desorganizadas, proporcionando o destaque de informações importantes. Tais perguntas pedem descrição ou explicação. “Como” e “por que” são termos freqüentemente usados aqui. A resposta para uma pergunta aberta revelará informações acerca das suposições, preconceitos, valores e convicções do respondente e serão fundamentais para a formulação das questões subseqüentes. Por outro lado, as perguntas fechadas requerem, às vezes, respostas predeterminadas e devem ser usadas quando o desejo for obter do respondente uma informação particular.

As perguntas de múltipla escolha: sim ou não, verdadeiro ou falso, são questões fechadas. Quem? O quê? Quando? Onde? e Como? são também perguntas fechadas muitíssimo empregadas.

Por quê? é uma pergunta particularmente eficaz porque extrai argumentos, suposições e conhecimento, ajudando a descobrir a visão de mundo do respondente. Mas deve ser perguntada com sinceridade e respeito, pois, caso contrário, pode ser interpretada como uma acusação e não uma tentativa de entendimento.

O que segue são exemplos de diferentes tipos de perguntas que poderíamos fazer para conduzir as respostas ao ultimato de Jesus: “E vós, quem dizeis que eu sou?” (Mt 16.15; Mc 8.29). Perguntas gerais que auxiliariam nesta resposta seriam: “Qual é a característica mais importante de Jesus?”; ou: “Como Jesus descreveu a si próprio?”. Perguntas mais específicas poderiam ser: “Jesus foi um personagem histórico?”; ou: “Você acredita que Jesus é Deus?”.

Perguntas simples e inteligíveis como estas podem ajudar a dissipar a fumaça e a verborragia racionalizada que algumas pessoas cultivam. Elas ajudarão a desmantelar as filosofias complexas que se instauram contra o conhecimento da verdade (2Co 10.5). E também ajudarão o cristão a iniciar um diálogo e ser diligente na afirmação de sua fé.



Por Tim Dahlstrom
Tradução: Elvis Brassaroto Aleixo

Fonte:

Christian Research Journal, vol. 27, nº 2, 2004.

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